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"Luiz Carlos Prestes entrou vivo
no Panteon da História.  
Os séculos cantarão a 'canção de gesta'
dos mil e quinhentos homens da
Coluna Prestes e sua marcha de quase
três anos através do Brasil.
Um Carlos Prestes nos é sagrado.
Ele pertence a toda a humanidade.
Quem o atinge, atinge-a."

(Romain Roland, 1936)


A encruzilhada russa
Escrito por Ángeles Maestro   

Na Rússia é muito comum esta frase atribuída a Pushkin: Se queres escutar tontices, deixa que um europeu fale sobre a Rússia. E é verdade sobretudo no caso das elites políticas ocidentais. Provavelmente por isso perderam as guerras contra ela uma após a outra, apesar dos gigantescos aparelhos bélicos postos em ação.

Para as organizações políticas revolucionárias – sobretudo aquelas que compreenderam a essência imperialista da guerra da NATO contra a Rússia que usa o fascismo ucraniano como aríete – é vital tentar analisar a complexidade e as contradições da Rússia atual, por muitas razões que não vou enumerar, mas sobretudo porque está a atua na linha de frente.

Sem atribuir-me a capacidade de compreender em profundidade os processos em jogo nesse enorme país, creio ainda assim que é possível traçar algumas linhas de estudo tomando como referência analistas e escritores que além de se dedicarem com clarividência a desentranhar a realidade do seu país, consideram, como a maioria da população russa e bielorussa, que o afundamento da URSS foi uma imensa catástrofe. Sem dúvida, o mais lúcido dos que pude consultar é Serguei Kurginyan, dirigente do movimento político “Essência do tempo” [1] e à sua análise me remeto em muitas das considerações que aqui transmito.

Trinta anos depois do afundamento da URSS, a guerra na Ucrânia e sobretudo as possibilidades de que se transforme num conflito de longa duração estão a obrigar a sociedade russa a despertar de uma letargia prolongada baseada nas falsas ilusões de “entrar no ocidente” ou, pelo menos, de manter relações amistosas com ele. Por outro lado, a rebelião militar dirigida pelo líder do grupo Wagner, Yevgeni Prigozhin, no passado mês de Junho, evidenciou debilidades e contradições profundas presentes na própria estrutura do Estado que, a não resolverem-se positivamente, poderiam por em causa a vitória da Rússia numa guerra longa, para além da Ucrânia, que, com toda a razão, é considerada como existencial.

Sem começar a valorar neste artigo as causas internas e externas do colapso da URSS, quero destacar alguns factos que contribuem para expicar a situação atual: a destruição da estrutura social foi realizada num tempo recorde, demoliram-se os aparelhos do Estado soviético para substituí-los por outros propenso ao ocidente, encerraram-se milhares de empresas e privatizou-se boa parte delas. As consequências foram brutais para a população. Segundo o CIDOB: “Em 1995 o índice de mortalidade cresceu 70% em comparação com o ano de 1989, chegando ao número de sobremortalidade de 2,2 milhões de pessoas por ano” [2]. Os suicídios, os assassinatos, as drogas, as máfias, o alcoolismo, o abandono de crianças, a morbilidade por doenças praticamente erradicadas, etc, refletem a derrocada total de uma sociedade.

Estes factos não aconteceram em toda a URSS. Na Bieorússia, Lukashenko, vendo o desastre, não só não privatizou empresas e serviços como também reverteu as poucas privatizações realizadas. O gráfico ao lado que relaciona a mortalidade por tuberculose entre países da ex-URSS que seguiram as políticas do FMI (todos exceto a Bielorússia) e o que não as seguiram é suficientemente explícito.

Um técnico estado-unidense enviado à Rússia na época exprimia-se assim:   “Percebi rapidamente que o plano de privatizações da indústria russa ia ser levado a cabo da noite para o dia, com custos muito altos para centenas de milhares de pessoas (…) Iam-se fulminar dezenas de milhares de empregos. Mas além disso as fábricas que iam encerrar-se proviam a população de escolas, hospitais, cuidados sanitários e pensões do berço à tumba. Informei Washington de tudo isso e disse-lhes que não ia restar qualquer rede de segurança social. Compreendi claramente que se tratava precisamente disso:   queriam eliminar todos os restos possíveis do estado para que não voltasse o Partido Comunista” [3].

O desaparecimento da URSS foi uma hecatombe social. Não só se destruíram num tempo recorde as estruturas do estado soviético – como se os dirigentes imperialistas houvessem lido “O estado e a revolução” – como se demoliu o modo de vida e tentou-se aniquilar a identidade do seu povo.

A vivência de todo este desastre – o imperialismo chamou-o de “terapia de choque” – provocou na população um trauma severo em todos os planos de que não se reabilitou. Kurginyan, que tem analisado este processo em profundidade, chama-o “feridas na consciência” e considera que “a consciência deformadas perde a sua adequação e não pode compreender normalmente o que ocorre no tempo e no espaço” [4].

Sobre esta profunda ferida social ergueu-se a Rússia pós-soviética. Construiu-se uma sociedade amnésica e anestesiada, com um profundo vazio ideológico, que em parte é ocupado pela igreja ortodoxa [5], em cima da ausência de todo projeto coletivo numa sociedade em que o comunitário – para além da superestrutura política – estava profundamente inscrito na consciência popular. A isso somaram-se as insultuosas desigualdades sociais, produto do roubo impune de empresas socializadas e da degradação científica, cultural e educativa.

A destruição, auto-destruição, das forças produtiva russas de alta tecnologia é um dos fatores determinantes da profunda regressão sofrida pela Rússia pós-soviética. Como assinala Kurginyan, nenhum outro país, em nenhum processo político, fez algo parecido. Talvez agora fosse preciso incorporar a UE a essas exceções históricas de auto-aniquilação produtiva, exatamente sob o mesmo hegemon.

Em definitivo, os aparelhos do Estado dessa Rússia mutilada e desestruturada estavam, e em boa medida ainda estão, controlados por elites políticas e económicas – preparadas e dirigidas desde há muito tempo por estruturas como o Clube de Roma ou a soviética “Firma” [6]. Estas elites foram as que dirigiram a demolição da URSS e as que, além de se apropriarem de grande parte dos recursos do país, atuaram como guardiões das políticas do imperialismo para a Rússia. Este novo poder, gestado a partir do interior das estruturas do Estado russo modificou totalmente a sua natureza. E Exército, mais sovietizado, constitui uma exceção relativa. Esta oligarquia, política e económica, e a correspondente engrenagem do Estado, esteve a trabalhar durante trinta anos para o objetivo que foi apresentado como um sonho dourado: “entrar no ocidente”.

As mudanças paulatinas na política externa da Rússia

Desde o desaparecimento da URSS, os EUA – secundados de forma contraditória pela UE até a sua atual subordinação absoluta à NATO e apoiado de forma cada vez menos encoberta pelo Estado sionista – foi arrasando um após o outro países cujos governos não se submetiam aos seus desígnios: Iraque (1991, 2003), Jugoslávia (1999), Afeganistão (2001), Líbia (2011).

Em todo este sangrento processo, até o caso da Líbia a representação russa no Conselho de Segurança da ONU votou a favor de todas as resoluções que amparavam a criminosas agressões militares do imperialismo, inclusive a Resolução 1244 de 1999 que dava via livre aos bombardeios da NATO sobre a nação irmã da Jugoslávia.

A destruição completa da Líbia pela NATO, em 2011, o país mais desenvolvido da África e que sustentava importantes projetos de soberania para o continente, também foi endossada pelo Conselho de Segurança da ONU, mas desta vez a China e a Rússia se abstiveram.

Este momento marca um ponto de inflexão na política externa russa que, alinhada com a China, vetou a partir de então todos o projetos de resolução apresentados pelos imperialismo euro-estado-unidense para apoiar a sua intervenção militar na Síria. Além disso, como é bem sabido, a Rússia aceitou a solicitação de ajuda militar do governo sírio que contribuiu decisivamente para modificar uma correlação de forças na zona, que já se vinha encaminhando. A este respeito há que destacar acontecimentos tão importantes na região como a derrota de Israel em 2006 por uma coligação libanesa liderada pelo Hezbolah e que marca o começo do desenvolvimento do Eixo da Resistência anti-imperialista e anti-sionista [7].

As tentativas dos dirigentes russos de manter boas relações com o ocidente, incluídas suas surpreendentes propostas de entrada na NATO, foram chocando progressivamente desde 1999, data em que a Polónia, a Hungria e a República Checa se integraram na Aliança, com a evidência de que o imperialismo anglo-saxão não pretendia outra coisa senão a desintegração da Rússia antes da sua dominação. Doze países da zona de influência da URSS incorporaram-se à Aliança, desde que em 1991 foi aprovado um documento [8] subscrito pelos ministros de Negócios Estrangeiros do Reino Unido, EUA, França e Alemanha no qual se garantia à Rússia que a NATO não se ampliaria em direção ao Leste.

Não foi só a incorporação de novos países. As sucessiva manobras militares da NATO foram ratificando materialmente o que os documentos de Segurança Nacional dos EUA afirmavam com toda a clareza: a Rússia, seguida de imediato pela China, era o inimigo principal [9].

Foi-se confirmando assim uma mudança progressiva mas radical nas alianças políticas, económicas, militares, culturais, desportivas, etc, que situa a Rússia, juntamente com a China, como colunas vertebrais de uma frente multipolar, que não cessa de ampliar-se com base no respeito à soberania e independência dos países, frente a um imperialismo que só oferece a política das canhoneiras. Insisto, contudo, em que todo este processo é efetuado com grandes contradições no interior de estruturas estatais e governamentais russas construídas para objetivos políticos totalmente diferentes.

O golpe fascista de Fevereiro 2014 na Ucrânia, concebido, financiado e organizado pelos EUA e a UE, incluindo todo tipo de atrocidades como o massacre da Casa dos Sindicatos de Odessa, a perseguição e tortura da população de cultura russa ou os bombardeamentos quotidianos da população civil do Donbass, era claramente dirigido contra a Rússia. Era uma ameaça iminente de guerra, que incluía o ingresso da Ucrânia na NATO. Ainda assim, um ano depois, em 2015, a Rússia junto com a França, Alemanha e Ucrânia firmou o Acordo de Minsk que estabelecia uma solução negociada para o conflito do Donbass. Angela Merkel declarou em Dezembro de 2022 que não havia qualquer intenção de cumprir suas condições e que tal Acordo foi firmado para que a Ucrânia ganhasse tempo para armar-se [10].

A assinatura do Acordo de Minsk não se verificou porque a Rússia foi enganada, como se costuma dizer. Foi o último ato de um Estado, construído à medida dos interesses do ocidente, que resistia a enfrentar a evidência: o imperialismo anglo-saxão ia declarar a guerra à Rússia.

A Operação Militar Especial, um caminho sem retorno

A decisão do governo russo de intervir militarmente na Ucrânia implica um passo decisivo para o futuro da Rússia. Conecta-a diretamente com um sentimento popular que, apesar de tudo, conserva marcado a fogo no seu cérebro: a recordação dos 27 milhões de mortos que custaram à URSS para derrotar o fascismo e que constitui parte indelével da identidade nacional russa. Esse sentimento popular que inclui a reivindicação da União Soviética sem que se haja ainda concretizado como objetivo político, e que vai crescendo cada vez mais como mostram até os inquéritos ocidentais, sofreu e sofre como próprios os massacres dos nazi ucranianos no Donbass e clamava pelo apoio militar às suas milícias populares. Implica também o ódio crescente aos oligarcas, os insultuosos “novos ricos” e, com ele, o individualismo consumista identificado com o ocidente.

O imperialismo joga com os oligarcas como quinta coluna. Eles, que devem ao ocidente suas fabulosas fortunas e que tão sumarentos negócios estavam a fazer com seus bancos e multinacionais, são também os apoiantes das suas políticas. Se por acaso fraquejassem na hora de exercerem suas influências no Estado, contra eles foram dirigidas boa parte das sanções. Sentindo suas pressões e comprovando as importantes perdas sofridas pelas suas empresas, os maiores magnatas como Mordashov (siderúrgica Everstal, mineração de ouro NordGold, banco Rossiya), Tinkov (banco digital Tinkoff), Mixail Fridman (supermercados DIA e AlfaBank) e alguns outros, clamaram contra a guerra, lamentando-se amargamente pela morte de inocentes, pronunciando-se contra o gasto militar, etc.

Putin fulminou-os imediatamente, só com palavras, tratando-os de títeres do ocidente e ameaçando que “o povo russo saberia limpar adequadamente os traidores, cuspindo-os como mosquitos que se metem acidentalmente na boca”. O tratamento pareceu surtir efeito e as poucas berrarias que se convocaram “contra a guerra” ficaram em águas de bacalhau.

Apesar disso, os conflitos de fundo continuam a desenvolver-se, entre o repto histórico que implica a necessidade de responder a uma confrontação militar em grande escala e durante longo tempo com um inimigo muito poderoso, com aparelhos de Estado concebidos para outros objetivos e uma estrutura social que, até agora, não parece ser consciente de que muitas coisas devem mudar para ser capaz de fazer-lhe frente.

Apesar de a suposta contra-ofensiva ucraniana ter resultado num fiasco, nem por isso o imperialismo deixará de inundar o governo de Kiev com todo o tipo de armas “até o último ucraniano”. “A única coisa que o ocidente não quer fazer e não fará, por enquanto, é por o seu próprio povo sob as balas. Uns cinco milhões de homens ucranianos, que já foram vendidos ao ocidente por cerca de um milhão de milhão de dólares (1012), estão destinados a este fim. A elite ucraniana está muito satisfeita com este sangrento intercâmbio”, assinala Kurginyan.

Além disso, recorda que as palavras que assinalaram desde o princípio os objetivos da intervenção militar – “a desnazificação e a desmilitarização da Ucrânia” – não são um mantra vazio de sentido e sim, pelo contrário, mostram o núcleo da questão [11]. O fascismo que se desenvolveu na Ucrânia, seguido por cerca de um milhão de pessoas, alimentado pelo imperialismo e ao qual entregou todos os recursos do estado, é especialmente bestial e considera os russos como o seu inimigo principal. Seria um grande erro subestimar essa força, assinala o dirigente de “Essência do tempo”.

O que a rebelião militar de Prigozhin tornou evidente

As análises delirantes dos “peritos” ocidentais sobre os Wagner, que para eles passaram de paladinos da liberdade a mercenários sujos, põem em evidência que não tinham a menor ideia de que a rebelião se ia verificar e que não entendem o que acontece na Rússia. Tudo isso, diz Kurginyan, não exime o povo russo de avaliar em profundidade o que ocorreu e, sobretudo, de extrair as consequências.

Para criar os Wagner o Estado investiu enorme quantidades de dinheiro, armamento e concedeu-lhe grandes poderes, como por exemplo, o recrutamento. Criou-se, assinala Kurgiyan, um sistema paralelo ao do Ministério da Defesa. E esse sistema foi criado por mandato do Presidente do Governo e obedecia a ele diretamente. A que responde a sua criação? Quando líder, pergunta-se Kurginyan, cria um sistema paralelo? E responde-se; “Em primeiro lugar quando suspeita que o sistema não lhe é de todo leal e, em segundo lugar, quando suspeita que não cumpre as tarefas que lhe foram assinaladas”.

A rebelião de Prigozhin pôs em evidência as graves contradições existentes. Seu fracasso, acreditou que parte substancial do exército ia segui-lo – apesar de ter permitido ao sistema, leia-se o Ministério da Defesa, confrontar diretamente o sistema paralelo criado por Putin e eliminar, por enquanto, a possibilidade de alternativas – não o destruiu.

O jogo interno de forças tornou-se evidente. A rebelião dos Wagner, que se encaminhou a Moscovo praticamente sem oposição interna, terminou com um indulto e com Prigozhin participando na Cimeira África-Rússia, em São Petersburgo. Além disso, novas tarefas de Estado chegaram aos Wagner: a Bielorússia, após a inteligente e oportuna mediação de Lukashenko e a intervenção em África a pedido dos novo movimentos anti-coloniais de diferentes países do Sahel.

Os grandes problemas continuam por resolver e são, no sentido estrito da palavra, estruturais. Uma parte do Estado russo, ou seja, a representação dos oligarcas nos poderes do Estado, estaria a advogar por uma paz negociada com a Ucrânia, quase a qualquer preço, e voltar às boas relações e negócios anteriores, e outra está consciente do caráter irreversível da ruptura com o ocidente e da envergadura da confrontação que o povo russo deverá assumir. “O sistema existente foi construído para ser parte da civilização ocidental e, portanto, não pode estar em guerra com esta civilização, insiste Kurginyan. Não pode garantir estrategicamente que a Rússia o ocidente, que é 10 vezes mais poderoso que a Rússia, durante muito tempo. Se um sistema criado para os antigos propósitos não consegue fazer frente à nova situação, acumulará disfunção. Não se trata de indivíduos como Shoigu, Gerasimov, Surovikin, etc e sim da arquitetura do sistema, construído para outras tarefas, para outros tipos de guerra”.

A disfunção essencial entre o “sistema”, a maquinaria do Estado e as elites económicas a que serve e os objetivos – a guerra contra o ocidente – radicalmente diferentes àqueles que respondem a sua criação e funcionamento, pode dar lugar a que seja precisamente o “sistema” o que mude a realidade, para adequá-la às finalidades que lhe deram origem. E se isso se pretendesse materializar, pergunta-se o dirigente da Essência do tempo, quem se converte no seu principal oponente? O que o impede de fazer o de sempre: trabalhar pouco, roubar muito e drogar-se. Quem é o estorvo? Obviamente, o líder do país.

Os grandes reptos da Rússia

O país enfrenta uma guerra de longa duração frente a um inimigo muito poderoso, que vai para além da Ucrânia e que pode ressurgir na Polónia, países bálticos, etc. Tudo isso num quadro em que os EUA preparam-se para enfrentar a grande potência que começa a superá-los e a disputar a sua hegemonia, a China. Neste caso, coloca lucidamente Kurginyan, “quando os EUA se veem por algum país segundo as suas próprias regras, não lhe dão um prémio e sim mudam as regras do jogo. A introdução da agenda ambiental ou a pandemia Covid são bons exemplos de como mudam as regras do jogo” [12]. E para enfrentar a China, não basta desestabilizar Taiwan; não são suficientes as batalhas navais. Como colocava o geógrafo britânico Mackinder, para que um império marítimo domine o planeta, primeiro tem que controlar o “coração continental”, o “pivot do mundo”, ou seja, a Rússia [13].

As previsões do governo russo de uma rápida vitória militar na Ucrânia resultaram completamente erróneas, ainda que felizmente tenha identificado como objetivos a desnazificação e a desmilitarização do regime de Kiev. Uma vez mais o “sistema” pós-soviético tentava contornar a realidade: a Rússia não estava só frente a um conflito com a Ucrânia, tratava-se de uma guerra contra a NATO. E claro que era preciso desnazificar e desmilitarizar a Ucrânia, mas era o ocidente que havia colocado os fascistas no poder e que os armava até os dentes.

A Rússia enfrenta uma guerra de longa duração contra a NATO, uma guerra de posições, de desgaste, que além disso não acabará com a guerra na Ucrânia. Em muitos aspectos esta guerra é ainda mais terrível do que a II Guerra Mundial e o povo russo deve saber a verdade. E a verdade aprendida na Grande Guerra Pátria é que ela só pôde ser ganha porque a ditadura do proletariado, ou seja, o proletariado erigido em classe dirigente, foi capaz de compreender e transmitir ao conjunto da sociedade soviética o gigantesco repto que devia assumir: a defesa da humanidade contra o fascismo, da humanidade contra a escravidão, da vida contra a morte. E tudo isso foi resumido numa palavra-de-ordem bem concreta: “Tudo para a Frente, Tudo para a Vitória”. E o povo soviético pulsou e atuou como um só ser coletivo.

A enorme potência que o povo soviético foi capaz de mobilizar não respondia só a um dever patriótico. Defendia também sua ditadura do proletariado, a primeira revolução operária triunfante e, por isso, tinha uma dimensão internacional, não só anti-fascista e sim histórica para a classe trabalhadora mundial.

A Rússia de hoje tem diante de si grandes reptos a superar para enfrentar um inimigo não inferior ao que enfrentou a URSS. Kurginyan identifica dois objetivos:

Em primeiro lugar, abordar um salto científico-técnico no complexo militar-industrial que permita superar o inimigo com todo tipo de armamento e de equipamentos. Depois da destruição das empresas e equipamentos mais avançados da URSS, para ganhar a guerra contra a NATO – para além da Ucrânia – é preciso dar um salto descomunal. As palavras de Estaline em 1932 foram chaves para a vitória na Grande Guerra Pátria: “se em dez anos não percorrermos o caminho que custou às potência ocidentais entre 50 e 100 anos, seremos esmagados”. A Rússia necessita reconstruir a poderosa indústria de bens de equipamento, destruída durante o colapso da URSS, imprescindível para por em marcha no nível requerido o complexo militar-industrial. Por sua vez, este precisa do concurso do sistema educativo para a preparação acelerada de quadros técnicos e de capacidades humanas em alguma medida semelhante ao esforço da sociedade soviética nos anos anteriores e durante a II Guerra Mundial.

A URSS pôde fazê-lo graças à industrialização, que requeria que toda a sociedade funcionasse como um punho em movimento. E a grande dúvida é: poderá fazê-lo a Rússia atual?

Em segundo lugar, é imprescindível abordar a batalha ideológica, a luta de ideias contra o imperialismo e o fascismo. Não é só a Ucrânia, o fascismo cresce em toda a Europa e nos EUA. É inútil a Rússia esperar que a extrema direita a trate melhor que a atual elite ocidental. É exatamente ao contrário!, afirma Kurginyan. Além disso, a moral do exército decai se não houve um trabalho ideológico poderoso e se a sociedade não estiver penetrada por essa impulso espiritual. E “se a farra na retaguarda não desaparecer, se o roubo não desaparecer, adverte, então a vitória numa guerra longa é impossível”. A guerra da informação não deve ser feita na linguagem das ovelhas. Kurginyan advoga por um sistema de mobilização, de posicionamento e um sistema de formação de novos quadro que possa converter as “sub-ovelha” em “cães lobos”. E não se trata de sacar bandeiras e dar lições de patriotismo nas escolas e sim da mobilização de um milhão de pessoas no lado anti-fascista. Mas até agora, sublinha, fez-se todo o possível para que isto não acontecesse.

O problema de fundo é como despertar a força vital necessária para galvanizar uma sociedade que acreditou no mito ideológico do capitalismo e em grande medida vive alheia ao que sucede na frente; a uma classe operári que assiste desmoralizada e impotente ao roubo quotidiano da oligarquia e que não reabilitou as “feridas da consciência” porque isso só pode ser feito retomando o fio histórico da luta pela sua emancipação.

Kurginyan propõe ativar a mola anti-fascista que sem dúvida é muito potente na Rússia. A questão é se a compreensão histórica coletiva e internacional do que implica o fascismo e, sobretudo, a atuação consequente para impedir que triunfe – Custe o que Custar, Tudo para a Frente, Tudo para a Vitória – é possível abordá-la sem a reconstrução da ferramenta que concentra a força operária e popular: o partido comunista.

A luta é internacional

A situação internacional atual mantém semelhanças com a II Guerra Mundial. A vontade manifesta de controle do mundo por parte da Alemanha nazi é representada hoje abertamente representado pelo imperialismo anglo-saxão, imerso numa crise económica terminal e cuja hegemonia em decadência empurra-o à guerra como única opção.

Após a derrota da República espanhola e em pleno auge do fascismo, a Alemanha foi ocupando os países europeus um após o outro sem qualquer resistência. Hoje a submissão da UE à NATO, dirigida com mão de ferro pelos EUA, com o seu território praguejado de bases militares, é absoluta. Também o é a vassalagem da política económica europeia, auto-destruição inclusive, aos interesses estado-unidenses. A isso há que acrescentar a colonização cultural ou o controle dos meios de comunicação. É um cenário político de auge do fascismo, hoje como ontem facilitado pela social-democracia.

É neste contexto que é preciso analisar o apoio económico e militar maciço do imperialismo à Ucrânia nazi. Não se trata só de que use o povo ucraniano como carne de canhão. A aliança é muito mais íntima e mais antiga. É a própria continuidade do nazismo alemão nos aparelho políticos e militares dos EUA e da NATO [14], é o ódio primário a todo o russo dos banderistas ucranianos e, sobretudo, é o fascismo com a supressão de direitos e liberdades, com a repressão selvagem e a militarização social, o que necessita o capitalismo em crise irreversível e a guerra imperialista em grande escala que se está a gestar.

Foi o povo russo, como ontem o soviético, que compreendeu que é a sua própria identidade e existência como povo que está em jogo. Ainda que como vimos – se bem que tenha sido capaz de responder atacando a ameaça ucro-nazi – a sua situação objetiva e subjetiva diste muito da de então.

Como se tem analisado, hoje não se vislumbra a solução para a incógnita de se o povo russo será capaz ou não de executar as transformações revolucionárias que lhe permitam enfrentar com êxito as tarefas vitais para o seu futuro e para o resto dos povos. O que é certo é que, após trinta anos de dominação ideológica, o povo russo demonstra com seus atos – certamente porque a herança recebida é muito poderosa – que não foi dobrado. O apoio popular maioritário e incontestável à intervenção militar contra o fascismo na Ucrânia é um grande exemplo.

O que é uma realidade inquestionável, tanto para o povo russo como para o resto dos povos do mundo – especialmente para os da Europa – é que nos encaminhamos para uma época de grande instabilidade política caracterizada por profundas mudanças destrutivas nos meios de produção e nas condições de vida de milhões de pessoas e pela imposição de um cenário de guerra permanente de intensidade variável contra a Rússia e a China.

A agudização da luta de classes em situações de crises profunda, e sobretudo a guerra, ampliam e intensificam as contradições internas da burguesia, debilitam sua hegemonia ideológica e abrem, como se demonstrou historicamente, possibilidades de revolução popular. E hoje, mais do que nunca, é imprescindível que a luta que a classe trabalhadora e os sectores populares desenvolvem em cada lugar tenha dimensão internacional.

O atraso organizativo e político na construção da única ferramenta que demonstrou ser capaz tanto de conduzir a revolução à vitória como de derrotar o fascismo, o partido comunista, deve deixar de ser uma justificação ou um lamento. Deve converter-se no campo de trabalho no qual os comunistas e as comunistas de hoje levarão a cabo as tarefas históricas das quais depende não só a revolução socialista como o futuro da humanidade.

https://rossaprimavera.ru Em língua russa. Sua caracterização política e a tradução de algumas das suas publicações principais para o castelhano podem consultar-se aqui: https://eu.eot.su/es/acerca-de/
https://apuntesdedemografia.com/2022/03/18/el-misterio-de-la-mortalidad-en-rusia/
3 Maestro, A. (2020) Crisis capitalista, guerra social en el cuerpo de la clase obrera.  https://www.lahaine.org/b2-img10/Angeles_Maestro_ESP.pdf
https://rossaprimavera.ru/video/afb341fb
5  A tentativa dos EUA de colonizar a Rússia com grupos evangelistas imediatamente depois do colapso da URSS, tal como fez na América Latina, contudo, não prosperou.
https://tsargrad.tv/news/sekret-firmy-s-chego-nachalos-unichtozhenie-sssr_439718
7 O Eixo da Resistência é um bloco histórico laico, anti-imperialista e anti-sionista que pretende superar divisões de caráter religioso ou étnico impostas pelo imperialismo, unido os povos num projeto comum de independência e soberania sobre os seus recursos. Liderado pelo Hezbollah, agrupa a resistência Palestina, Irão, Síria, Iémen e organizações iraquianas.
8  O documento citado pode ser consultado aqui: https://espanol.almayadeen.net/news/politics/1558112/otan-prometi%C3%B3-en-1991-no-expandirse-ni-una-pulgada-hacia-el
https://www.nytimes.com/2016/02/03/opinion/the-pentagons-top-threat-russia.html?_r=0
10 https://www.msn.com/fr-fr/divertissement/actualite/angela-merkel-les-accords-de-minsk-ont-%C3%A9t%C3%A9-sign%C3%A9s-pour-donner-du-temps-%C3%A0-l-ukraine/vi-AA152UVJ
11 https://rossaprimavera.ru/video/c98f9bd3
12 https://rossaprimavera.ru/video/81bf7a03
13 https://archivo.kaosenlared.net/las-contradicciones-entre-el-imperialismo-estadounidense-y-el-europeo-controlar-el-pivote-del-mundo/index.html
14 https://cnc2022.wordpress.com/2023/03/07/el-imperialismo-anglosajon-la-otan-y-el-fascismo-caras-de-la-misma-moneda/

21/Agosto/2023

[*] Dirigente da Coordenação de Núcleos Comunistas, Espanha.

O original encontra-se em cnc2022.wordpress.com/2023/08/21/la-encrucijada-rusa/

Este artigo encontra-se em resistir.info

Na Rússia é muito comum esta frase atribuída a Pushkin: Se queres escutar tontices, deixa que um europeu fale sobre a Rússia. E é verdade sobretudo no caso das elites políticas ocidentais. Provavelmente por isso perderam as guerras contra ela uma após a outra, apesar dos gigantescos aparelhos bélicos postos em ação.

Para as organizações políticas revolucionárias – sobretudo aquelas que compreenderam a essência imperialista da guerra da NATO contra a Rússia que usa o fascismo ucraniano como aríete – é vital tentar analisar a complexidade e as contradições da Rússia atual, por muitas razões que não vou enumerar, mas sobretudo porque está a atua na linha de frente.

Sem atribuir-me a capacidade de compreender em profundidade os processos em jogo nesse enorme país, creio ainda assim que é possível traçar algumas linhas de estudo tomando como referência analistas e escritores que além de se dedicarem com clarividência a desentranhar a realidade do seu país, consideram, como a maioria da população russa e bielorussa, que o afundamento da URSS foi uma imensa catástrofe. Sem dúvida, o mais lúcido dos que pude consultar é Serguei Kurginyan, dirigente do movimento político “Essência do tempo” [1] e à sua análise me remeto em muitas das considerações que aqui transmito.

Trinta anos depois do afundamento da URSS, a guerra na Ucrânia e sobretudo as possibilidades de que se transforme num conflito de longa duração estão a obrigar a sociedade russa a despertar de uma letargia prolongada baseada nas falsas ilusões de “entrar no ocidente” ou, pelo menos, de manter relações amistosas com ele. Por outro lado, a rebelião militar dirigida pelo líder do grupo Wagner, Yevgeni Prigozhin, no passado mês de Junho, evidenciou debilidades e contradições profundas presentes na própria estrutura do Estado que, a não resolverem-se positivamente, poderiam por em causa a vitória da Rússia numa guerra longa, para além da Ucrânia, que, com toda a razão, é considerada como existencial.

Sem começar a valorar neste artigo as causas internas e externas do colapso da URSS, quero destacar alguns factos que contribuem para expicar a situação atual: a destruição da estrutura social foi realizada num tempo recorde, demoliram-se os aparelhos do Estado soviético para substituí-los por outros propenso ao ocidente, encerraram-se milhares de empresas e privatizou-se boa parte delas. As consequências foram brutais para a população. Segundo o CIDOB: “Em 1995 o índice de mortalidade cresceu 70% em comparação com o ano de 1989, chegando ao número de sobremortalidade de 2,2 milhões de pessoas por ano” [2]. Os suicídios, os assassinatos, as drogas, as máfias, o alcoolismo, o abandono de crianças, a morbilidade por doenças praticamente erradicadas, etc, refletem a derrocada total de uma sociedade.

Tendências em taxas de tuberculose.

Estes factos não aconteceram em toda a URSS. Na Bieorússia, Lukashenko, vendo o desastre, não só não privatizou empresas e serviços como também reverteu as poucas privatizações realizadas. O gráfico ao lado que relaciona a mortalidade por tuberculose entre países da ex-URSS que seguiram as políticas do FMI (todos exceto a Bielorússia) e o que não as seguiram é suficientemente explícito.

Um técnico estado-unidense enviado à Rússia na época exprimia-se assim:   “Percebi rapidamente que o plano de privatizações da indústria russa ia ser levado a cabo da noite para o dia, com custos muito altos para centenas de milhares de pessoas (…) Iam-se fulminar dezenas de milhares de empregos. Mas além disso as fábricas que iam encerrar-se proviam a população de escolas, hospitais, cuidados sanitários e pensões do berço à tumba. Informei Washington de tudo isso e disse-lhes que não ia restar qualquer rede de segurança social. Compreendi claramente que se tratava precisamente disso:   queriam eliminar todos os restos possíveis do estado para que não voltasse o Partido Comunista” [3].

O desaparecimento da URSS foi uma hecatombe social. Não só se destruíram num tempo recorde as estruturas do estado soviético – como se os dirigentes imperialistas houvessem lido “O estado e a revolução” – como se demoliu o modo de vida e tentou-se aniquilar a identidade do seu povo.

A vivência de todo este desastre – o imperialismo chamou-o de “terapia de choque” – provocou na população um trauma severo em todos os planos de que não se reabilitou. Kurginyan, que tem analisado este processo em profundidade, chama-o “feridas na consciência” e considera que “a consciência deformadas perde a sua adequação e não pode compreender normalmente o que ocorre no tempo e no espaço” [4].

Sobre esta profunda ferida social ergueu-se a Rússia pós-soviética. Construiu-se uma sociedade amnésica e anestesiada, com um profundo vazio ideológico, que em parte é ocupado pela igreja ortodoxa [5], em cima da ausência de todo projeto coletivo numa sociedade em que o comunitário – para além da superestrutura política – estava profundamente inscrito na consciência popular. A isso somaram-se as insultuosas desigualdades sociais, produto do roubo impune de empresas socializadas e da degradação científica, cultural e educativa.

A destruição, auto-destruição, das forças produtiva russas de alta tecnologia é um dos fatores determinantes da profunda regressão sofrida pela Rússia pós-soviética. Como assinala Kurginyan, nenhum outro país, em nenhum processo político, fez algo parecido. Talvez agora fosse preciso incorporar a UE a essas exceções históricas de auto-aniquilação produtiva, exatamente sob o mesmo hegemon.

Em definitivo, os aparelhos do Estado dessa Rússia mutilada e desestruturada estavam, e em boa medida ainda estão, controlados por elites políticas e económicas – preparadas e dirigidas desde há muito tempo por estruturas como o Clube de Roma ou a soviética “Firma” [6]. Estas elites foram as que dirigiram a demolição da URSS e as que, além de se apropriarem de grande parte dos recursos do país, atuaram como guardiões das políticas do imperialismo para a Rússia. Este novo poder, gestado a partir do interior das estruturas do Estado russo modificou totalmente a sua natureza. E Exército, mais sovietizado, constitui uma exceção relativa. Esta oligarquia, política e económica, e a correspondente engrenagem do Estado, esteve a trabalhar durante trinta anos para o objetivo que foi apresentado como um sonho dourado: “entrar no ocidente”.

As mudanças paulatinas na política externa da Rússia

Desde o desaparecimento da URSS, os EUA – secundados de forma contraditória pela UE até a sua atual subordinação absoluta à NATO e apoiado de forma cada vez menos encoberta pelo Estado sionista – foi arrasando um após o outro países cujos governos não se submetiam aos seus desígnios: Iraque (1991, 2003), Jugoslávia (1999), Afeganistão (2001), Líbia (2011).

Em todo este sangrento processo, até o caso da Líbia a representação russa no Conselho de Segurança da ONU votou a favor de todas as resoluções que amparavam a criminosas agressões militares do imperialismo, inclusive a Resolução 1244 de 1999 que dava via livre aos bombardeios da NATO sobre a nação irmã da Jugoslávia.

A destruição completa da Líbia pela NATO, em 2011, o país mais desenvolvido da África e que sustentava importantes projetos de soberania para o continente, também foi endossada pelo Conselho de Segurança da ONU, mas desta vez a China e a Rússia se abstiveram.

Este momento marca um ponto de inflexão na política externa russa que, alinhada com a China, vetou a partir de então todos o projetos de resolução apresentados pelos imperialismo euro-estado-unidense para apoiar a sua intervenção militar na Síria. Além disso, como é bem sabido, a Rússia aceitou a solicitação de ajuda militar do governo sírio que contribuiu decisivamente para modificar uma correlação de forças na zona, que já se vinha encaminhando. A este respeito há que destacar acontecimentos tão importantes na região como a derrota de Israel em 2006 por uma coligação libanesa liderada pelo Hezbolah e que marca o começo do desenvolvimento do Eixo da Resistência anti-imperialista e anti-sionista [7].

As tentativas dos dirigentes russos de manter boas relações com o ocidente, incluídas suas surpreendentes propostas de entrada na NATO, foram chocando progressivamente desde 1999, data em que a Polónia, a Hungria e a República Checa se integraram na Aliança, com a evidência de que o imperialismo anglo-saxão não pretendia outra coisa senão a desintegração da Rússia antes da sua dominação. Doze países da zona de influência da URSS incorporaram-se à Aliança, desde que em 1991 foi aprovado um documento [8] subscrito pelos ministros de Negócios Estrangeiros do Reino Unido, EUA, França e Alemanha no qual se garantia à Rússia que a NATO não se ampliaria em direção ao Leste.

Não foi só a incorporação de novos países. As sucessiva manobras militares da NATO foram ratificando materialmente o que os documentos de Segurança Nacional dos EUA afirmavam com toda a clareza: a Rússia, seguida de imediato pela China, era o inimigo principal [9].

Foi-se confirmando assim uma mudança progressiva mas radical nas alianças políticas, económicas, militares, culturais, desportivas, etc, que situa a Rússia, juntamente com a China, como colunas vertebrais de uma frente multipolar, que não cessa de ampliar-se com base no respeito à soberania e independência dos países, frente a um imperialismo que só oferece a política das canhoneiras. Insisto, contudo, em que todo este processo é efetuado com grandes contradições no interior de estruturas estatais e governamentais russas construídas para objetivos políticos totalmente diferentes.

O golpe fascista de Fevereiro 2014 na Ucrânia, concebido, financiado e organizado pelos EUA e a UE, incluindo todo tipo de atrocidades como o massacre da Casa dos Sindicatos de Odessa, a perseguição e tortura da população de cultura russa ou os bombardeamentos quotidianos da população civil do Donbass, era claramente dirigido contra a Rússia. Era uma ameaça iminente de guerra, que incluía o ingresso da Ucrânia na NATO. Ainda assim, um ano depois, em 2015, a Rússia junto com a França, Alemanha e Ucrânia firmou o Acordo de Minsk que estabelecia uma solução negociada para o conflito do Donbass. Angela Merkel declarou em Dezembro de 2022 que não havia qualquer intenção de cumprir suas condições e que tal Acordo foi firmado para que a Ucrânia ganhasse tempo para armar-se [10].

A assinatura do Acordo de Minsk não se verificou porque a Rússia foi enganada, como se costuma dizer. Foi o último ato de um Estado, construído à medida dos interesses do ocidente, que resistia a enfrentar a evidência: o imperialismo anglo-saxão ia declarar a guerra à Rússia.

A Operação Militar Especial, um caminho sem retorno

A decisão do governo russo de intervir militarmente na Ucrânia implica um passo decisivo para o futuro da Rússia. Conecta-a diretamente com um sentimento popular que, apesar de tudo, conserva marcado a fogo no seu cérebro: a recordação dos 27 milhões de mortos que custaram à URSS para derrotar o fascismo e que constitui parte indelével da identidade nacional russa. Esse sentimento popular que inclui a reivindicação da União Soviética sem que se haja ainda concretizado como objetivo político, e que vai crescendo cada vez mais como mostram até os inquéritos ocidentais, sofreu e sofre como próprios os massacres dos nazi ucranianos no Donbass e clamava pelo apoio militar às suas milícias populares. Implica também o ódio crescente aos oligarcas, os insultuosos “novos ricos” e, com ele, o individualismo consumista identificado com o ocidente.

O imperialismo joga com os oligarcas como quinta coluna. Eles, que devem ao ocidente suas fabulosas fortunas e que tão sumarentos negócios estavam a fazer com seus bancos e multinacionais, são também os apoiantes das suas políticas. Se por acaso fraquejassem na hora de exercerem suas influências no Estado, contra eles foram dirigidas boa parte das sanções. Sentindo suas pressões e comprovando as importantes perdas sofridas pelas suas empresas, os maiores magnatas como Mordashov (siderúrgica Everstal, mineração de ouro NordGold, banco Rossiya), Tinkov (banco digital Tinkoff), Mixail Fridman (supermercados DIA e AlfaBank) e alguns outros, clamaram contra a guerra, lamentando-se amargamente pela morte de inocentes, pronunciando-se contra o gasto militar, etc.

Putin fulminou-os imediatamente, só com palavras, tratando-os de títeres do ocidente e ameaçando que “o povo russo saberia limpar adequadamente os traidores, cuspindo-os como mosquitos que se metem acidentalmente na boca”. O tratamento pareceu surtir efeito e as poucas berrarias que se convocaram “contra a guerra” ficaram em águas de bacalhau.

Apesar disso, os conflitos de fundo continuam a desenvolver-se, entre o repto histórico que implica a necessidade de responder a uma confrontação militar em grande escala e durante longo tempo com um inimigo muito poderoso, com aparelhos de Estado concebidos para outros objetivos e uma estrutura social que, até agora, não parece ser consciente de que muitas coisas devem mudar para ser capaz de fazer-lhe frente.

Apesar de a suposta contra-ofensiva ucraniana ter resultado num fiasco, nem por isso o imperialismo deixará de inundar o governo de Kiev com todo o tipo de armas “até o último ucraniano”. “A única coisa que o ocidente não quer fazer e não fará, por enquanto, é por o seu próprio povo sob as balas. Uns cinco milhões de homens ucranianos, que já foram vendidos ao ocidente por cerca de um milhão de milhão de dólares (1012), estão destinados a este fim. A elite ucraniana está muito satisfeita com este sangrento intercâmbio”, assinala Kurginyan.

Além disso, recorda que as palavras que assinalaram desde o princípio os objetivos da intervenção militar – “a desnazificação e a desmilitarização da Ucrânia” – não são um mantra vazio de sentido e sim, pelo contrário, mostram o núcleo da questão [11]. O fascismo que se desenvolveu na Ucrânia, seguido por cerca de um milhão de pessoas, alimentado pelo imperialismo e ao qual entregou todos os recursos do estado, é especialmente bestial e considera os russos como o seu inimigo principal. Seria um grande erro subestimar essa força, assinala o dirigente de “Essência do tempo”.

O que a rebelião militar de Prigozhin tornou evidente

As análises delirantes dos “peritos” ocidentais sobre os Wagner, que para eles passaram de paladinos da liberdade a mercenários sujos, põem em evidência que não tinham a menor ideia de que a rebelião se ia verificar e que não entendem o que acontece na Rússia. Tudo isso, diz Kurginyan, não exime o povo russo de avaliar em profundidade o que ocorreu e, sobretudo, de extrair as consequências.

Para criar os Wagner o Estado investiu enorme quantidades de dinheiro, armamento e concedeu-lhe grandes poderes, como por exemplo, o recrutamento. Criou-se, assinala Kurgiyan, um sistema paralelo ao do Ministério da Defesa. E esse sistema foi criado por mandato do Presidente do Governo e obedecia a ele diretamente. A que responde a sua criação? Quando líder, pergunta-se Kurginyan, cria um sistema paralelo? E responde-se; “Em primeiro lugar quando suspeita que o sistema não lhe é de todo leal e, em segundo lugar, quando suspeita que não cumpre as tarefas que lhe foram assinaladas”.

A rebelião de Prigozhin pôs em evidência as graves contradições existentes. Seu fracasso, acreditou que parte substancial do exército ia segui-lo – apesar de ter permitido ao sistema, leia-se o Ministério da Defesa, confrontar diretamente o sistema paralelo criado por Putin e eliminar, por enquanto, a possibilidade de alternativas – não o destruiu.

O jogo interno de forças tornou-se evidente. A rebelião dos Wagner, que se encaminhou a Moscovo praticamente sem oposição interna, terminou com um indulto e com Prigozhin participando na Cimeira África-Rússia, em São Petersburgo. Além disso, novas tarefas de Estado chegaram aos Wagner: a Bielorússia, após a inteligente e oportuna mediação de Lukashenko e a intervenção em África a pedido dos novo movimentos anti-coloniais de diferentes países do Sahel.

Os grandes problemas continuam por resolver e são, no sentido estrito da palavra, estruturais. Uma parte do Estado russo, ou seja, a representação dos oligarcas nos poderes do Estado, estaria a advogar por uma paz negociada com a Ucrânia, quase a qualquer preço, e voltar às boas relações e negócios anteriores, e outra está consciente do caráter irreversível da ruptura com o ocidente e da envergadura da confrontação que o povo russo deverá assumir. “O sistema existente foi construído para ser parte da civilização ocidental e, portanto, não pode estar em guerra com esta civilização, insiste Kurginyan. Não pode garantir estrategicamente que a Rússia o ocidente, que é 10 vezes mais poderoso que a Rússia, durante muito tempo. Se um sistema criado para os antigos propósitos não consegue fazer frente à nova situação, acumulará disfunção. Não se trata de indivíduos como Shoigu, Gerasimov, Surovikin, etc e sim da arquitetura do sistema, construído para outras tarefas, para outros tipos de guerra”.

A disfunção essencial entre o “sistema”, a maquinaria do Estado e as elites económicas a que serve e os objetivos – a guerra contra o ocidente – radicalmente diferentes àqueles que respondem a sua criação e funcionamento, pode dar lugar a que seja precisamente o “sistema” o que mude a realidade, para adequá-la às finalidades que lhe deram origem. E se isso se pretendesse materializar, pergunta-se o dirigente da Essência do tempo, quem se converte no seu principal oponente? O que o impede de fazer o de sempre: trabalhar pouco, roubar muito e drogar-se. Quem é o estorvo? Obviamente, o líder do país.

Os grandes reptos da Rússia

O país enfrenta uma guerra de longa duração frente a um inimigo muito poderoso, que vai para além da Ucrânia e que pode ressurgir na Polónia, países bálticos, etc. Tudo isso num quadro em que os EUA preparam-se para enfrentar a grande potência que começa a superá-los e a disputar a sua hegemonia, a China. Neste caso, coloca lucidamente Kurginyan, “quando os EUA se veem por algum país segundo as suas próprias regras, não lhe dão um prémio e sim mudam as regras do jogo. A introdução da agenda ambiental ou a pandemia Covid são bons exemplos de como mudam as regras do jogo” [12]. E para enfrentar a China, não basta desestabilizar Taiwan; não são suficientes as batalhas navais. Como colocava o geógrafo britânico Mackinder, para que um império marítimo domine o planeta, primeiro tem que controlar o “coração continental”, o “pivot do mundo”, ou seja, a Rússia [13].

As previsões do governo russo de uma rápida vitória militar na Ucrânia resultaram completamente erróneas, ainda que felizmente tenha identificado como objetivos a desnazificação e a desmilitarização do regime de Kiev. Uma vez mais o “sistema” pós-soviético tentava contornar a realidade: a Rússia não estava só frente a um conflito com a Ucrânia, tratava-se de uma guerra contra a NATO. E claro que era preciso desnazificar e desmilitarizar a Ucrânia, mas era o ocidente que havia colocado os fascistas no poder e que os armava até os dentes.

A Rússia enfrenta uma guerra de longa duração contra a NATO, uma guerra de posições, de desgaste, que além disso não acabará com a guerra na Ucrânia. Em muitos aspectos esta guerra é ainda mais terrível do que a II Guerra Mundial e o povo russo deve saber a verdade. E a verdade aprendida na Grande Guerra Pátria é que ela só pôde ser ganha porque a ditadura do proletariado, ou seja, o proletariado erigido em classe dirigente, foi capaz de compreender e transmitir ao conjunto da sociedade soviética o gigantesco repto que devia assumir: a defesa da humanidade contra o fascismo, da humanidade contra a escravidão, da vida contra a morte. E tudo isso foi resumido numa palavra-de-ordem bem concreta: “Tudo para a Frente, Tudo para a Vitória”. E o povo soviético pulsou e atuou como um só ser coletivo.

A enorme potência que o povo soviético foi capaz de mobilizar não respondia só a um dever patriótico. Defendia também sua ditadura do proletariado, a primeira revolução operária triunfante e, por isso, tinha uma dimensão internacional, não só anti-fascista e sim histórica para a classe trabalhadora mundial.

A Rússia de hoje tem diante de si grandes reptos a superar para enfrentar um inimigo não inferior ao que enfrentou a URSS. Kurginyan identifica dois objetivos:

Em primeiro lugar, abordar um salto científico-técnico no complexo militar-industrial que permita superar o inimigo com todo tipo de armamento e de equipamentos. Depois da destruição das empresas e equipamentos mais avançados da URSS, para ganhar a guerra contra a NATO – para além da Ucrânia – é preciso dar um salto descomunal. As palavras de Estaline em 1932 foram chaves para a vitória na Grande Guerra Pátria: “se em dez anos não percorrermos o caminho que custou às potência ocidentais entre 50 e 100 anos, seremos esmagados”. A Rússia necessita reconstruir a poderosa indústria de bens de equipamento, destruída durante o colapso da URSS, imprescindível para por em marcha no nível requerido o complexo militar-industrial. Por sua vez, este precisa do concurso do sistema educativo para a preparação acelerada de quadros técnicos e de capacidades humanas em alguma medida semelhante ao esforço da sociedade soviética nos anos anteriores e durante a II Guerra Mundial.

A URSS pôde fazê-lo graças à industrialização, que requeria que toda a sociedade funcionasse como um punho em movimento. E a grande dúvida é: poderá fazê-lo a Rússia atual?

Em segundo lugar, é imprescindível abordar a batalha ideológica, a luta de ideias contra o imperialismo e o fascismo. Não é só a Ucrânia, o fascismo cresce em toda a Europa e nos EUA. É inútil a Rússia esperar que a extrema direita a trate melhor que a atual elite ocidental. É exatamente ao contrário!, afirma Kurginyan. Além disso, a moral do exército decai se não houve um trabalho ideológico poderoso e se a sociedade não estiver penetrada por essa impulso espiritual. E “se a farra na retaguarda não desaparecer, se o roubo não desaparecer, adverte, então a vitória numa guerra longa é impossível”. A guerra da informação não deve ser feita na linguagem das ovelhas. Kurginyan advoga por um sistema de mobilização, de posicionamento e um sistema de formação de novos quadro que possa converter as “sub-ovelha” em “cães lobos”. E não se trata de sacar bandeiras e dar lições de patriotismo nas escolas e sim da mobilização de um milhão de pessoas no lado anti-fascista. Mas até agora, sublinha, fez-se todo o possível para que isto não acontecesse.

O problema de fundo é como despertar a força vital necessária para galvanizar uma sociedade que acreditou no mito ideológico do capitalismo e em grande medida vive alheia ao que sucede na frente; a uma classe operári que assiste desmoralizada e impotente ao roubo quotidiano da oligarquia e que não reabilitou as “feridas da consciência” porque isso só pode ser feito retomando o fio histórico da luta pela sua emancipação.

Kurginyan propõe ativar a mola anti-fascista que sem dúvida é muito potente na Rússia. A questão é se a compreensão histórica coletiva e internacional do que implica o fascismo e, sobretudo, a atuação consequente para impedir que triunfe – Custe o que Custar, Tudo para a Frente, Tudo para a Vitória – é possível abordá-la sem a reconstrução da ferramenta que concentra a força operária e popular: o partido comunista.

A luta é internacional

A situação internacional atual mantém semelhanças com a II Guerra Mundial. A vontade manifesta de controle do mundo por parte da Alemanha nazi é representada hoje abertamente representado pelo imperialismo anglo-saxão, imerso numa crise económica terminal e cuja hegemonia em decadência empurra-o à guerra como única opção.

Após a derrota da República espanhola e em pleno auge do fascismo, a Alemanha foi ocupando os países europeus um após o outro sem qualquer resistência. Hoje a submissão da UE à NATO, dirigida com mão de ferro pelos EUA, com o seu território praguejado de bases militares, é absoluta. Também o é a vassalagem da política económica europeia, auto-destruição inclusive, aos interesses estado-unidenses. A isso há que acrescentar a colonização cultural ou o controle dos meios de comunicação. É um cenário político de auge do fascismo, hoje como ontem facilitado pela social-democracia.

É neste contexto que é preciso analisar o apoio económico e militar maciço do imperialismo à Ucrânia nazi. Não se trata só de que use o povo ucraniano como carne de canhão. A aliança é muito mais íntima e mais antiga. É a própria continuidade do nazismo alemão nos aparelho políticos e militares dos EUA e da NATO [14], é o ódio primário a todo o russo dos banderistas ucranianos e, sobretudo, é o fascismo com a supressão de direitos e liberdades, com a repressão selvagem e a militarização social, o que necessita o capitalismo em crise irreversível e a guerra imperialista em grande escala que se está a gestar.

Foi o povo russo, como ontem o soviético, que compreendeu que é a sua própria identidade e existência como povo que está em jogo. Ainda que como vimos – se bem que tenha sido capaz de responder atacando a ameaça ucro-nazi – a sua situação objetiva e subjetiva diste muito da de então.

Como se tem analisado, hoje não se vislumbra a solução para a incógnita de se o povo russo será capaz ou não de executar as transformações revolucionárias que lhe permitam enfrentar com êxito as tarefas vitais para o seu futuro e para o resto dos povos. O que é certo é que, após trinta anos de dominação ideológica, o povo russo demonstra com seus atos – certamente porque a herança recebida é muito poderosa – que não foi dobrado. O apoio popular maioritário e incontestável à intervenção militar contra o fascismo na Ucrânia é um grande exemplo.

O que é uma realidade inquestionável, tanto para o povo russo como para o resto dos povos do mundo – especialmente para os da Europa – é que nos encaminhamos para uma época de grande instabilidade política caracterizada por profundas mudanças destrutivas nos meios de produção e nas condições de vida de milhões de pessoas e pela imposição de um cenário de guerra permanente de intensidade variável contra a Rússia e a China.

A agudização da luta de classes em situações de crises profunda, e sobretudo a guerra, ampliam e intensificam as contradições internas da burguesia, debilitam sua hegemonia ideológica e abrem, como se demonstrou historicamente, possibilidades de revolução popular. E hoje, mais do que nunca, é imprescindível que a luta que a classe trabalhadora e os sectores populares desenvolvem em cada lugar tenha dimensão internacional.

O atraso organizativo e político na construção da única ferramenta que demonstrou ser capaz tanto de conduzir a revolução à vitória como de derrotar o fascismo, o partido comunista, deve deixar de ser uma justificação ou um lamento. Deve converter-se no campo de trabalho no qual os comunistas e as comunistas de hoje levarão a cabo as tarefas históricas das quais depende não só a revolução socialista como o futuro da humanidade.

1 https://rossaprimavera.ru Em língua russa. Sua caracterização política e a tradução de algumas das suas publicações principais para o castelhano podem consultar-se aqui: https://eu.eot.su/es/acerca-de/
2 https://apuntesdedemografia.com/2022/03/18/el-misterio-de-la-mortalidad-en-rusia/
3 Maestro, A. (2020) Crisis capitalista, guerra social en el cuerpo de la clase obrera. https://www.lahaine.org/b2-img10/Angeles_Maestro_ESP.pdf
4 https://rossaprimavera.ru/video/afb341fb
5  A tentativa dos EUA de colonizar a Rússia com grupos evangelistas imediatamente depois do colapso da URSS, tal como fez na América Latina, contudo, não prosperou.
6 https://tsargrad.tv/news/sekret-firmy-s-chego-nachalos-unichtozhenie-sssr_439718
7 O Eixo da Resistência é um bloco histórico laico, anti-imperialista e anti-sionista que pretende superar divisões de caráter religioso ou étnico impostas pelo imperialismo, unido os povos num projeto comum de independência e soberania sobre os seus recursos. Liderado pelo Hezbollah, agrupa a resistência Palestina, Irão, Síria, Iémen e organizações iraquianas.
8  O documento citado pode ser consultado aqui: https://espanol.almayadeen.net/news/politics/1558112/otan-prometi%C3%B3-en-1991-no-expandirse-ni-una-pulgada-hacia-el
9 https://www.nytimes.com/2016/02/03/opinion/the-pentagons-top-threat-russia.html?_r=0
10 https://www.msn.com/fr-fr/divertissement/actualite/angela-merkel-les-accords-de-minsk-ont-%C3%A9t%C3%A9-sign%C3%A9s-pour-donner-du-temps-%C3%A0-l-ukraine/vi-AA152UVJ
11 https://rossaprimavera.ru/video/c98f9bd3
12 https://rossaprimavera.ru/video/81bf7a03
13 https://archivo.kaosenlared.net/las-contradicciones-entre-el-imperialismo-estadounidense-y-el-europeo-controlar-el-pivote-del-mundo/index.html
14 https://cnc2022.wordpress.com/2023/03/07/el-imperialismo-anglosajon-la-otan-y-el-fascismo-caras-de-la-misma-moneda/

21/Agosto/2023

Dirigente da Coordenação de Núcleos Comunistas, Espanha.

O original encontra-se em cnc2022.wordpress.com/2023/08/21/la-encrucijada-rusa/

Este artigo encontra-se em resistir.info

Última atualização em Seg, 28 de Agosto de 2023 00:52