As manobras do imperialismo não brilham pela originalidade: repetem um guião. O que se passa actualmente em relação à Bielorrússia já foi visto noutros lugares, desde as Filipinas até à Venezuela. Impressiona, em qualquer caso, a forma como a componente mediática da ofensiva finge ignorar essa repetição, e compreende-se porquê: é que todos os antecedentes que tiveram sucesso conduziram aos mesmos trágicos resultados para os respectivos povos.
Deixo-vos isto, elaborado com base na recompilação de informações dispersas:
1.- Mobilizações populares em resultado de eleições presidenciais, com base real.
2.- Uma candidata opositora sem outras credenciais políticas senão ser esposa do seu marido. NOTA HISTÓRICA: O modelo de candidata viúva foi aplicado pela primeira vez pelos EUA nas Filipinas, para acabar com a ditadura de Ferdinand Marcos. Não que os EUA se importassem com a democracia. Marcos, como os Somoza na Nicarágua, chegara ao poder com um golpe de Estado apoiado pelos Estados Unidos. As revoluções no Irão e na Nicarágua em 1979 fizeram Washington ver que o modelo de dominação baseado em ditaduras não só deixara de ser rentável como era perigoso, pois fomentava revoluções anti-imperialistas. Decidiram, então, mudar de modelo, para um pseudo-democrático, dirigindo eles próprios as mudanças. Marcos foi o primeiro a experimentar o purgante. Os EUA escolheram como líder Corazón Aquino, viúva do opositor Benigno Aquino protegido, por sua vez, pelos EUA, e assassinado pela ditadura filipina em 1983. Em 1986, Corazón Aquino foi candidata de uma ampla frente de oposição organizada … pelos EUA. O ditador Marcos e Aquino proclamam-se vencedores. Um golpe militar pôs fim ao problema, com o derrube de Marcos. Aquino foi presidente, suprimiu o ensino do espanhol e governou felizmente para uns felizes EUA. O país seguinte a conhecer a fórmula da viúva candidata anticomunista foi a Nicarágua, com Violeta Barrios, viúva de Chamorro. Na Bielorrússia não há viúva, apenas a exilada de um blogueiro, preso por incitar à violência no seu blogue. Não é viúva, mas serve aos propósitos pretendidos. Além disso, a substância do modelo é mantida: consorte de …
3.- “Temos recursos financeiros, mobilizamos 50 milhões de euros para ajudar a sociedade bielorrussa, temos influência política, mas a Bielorrússia não deve ser uma segunda Ucrânia”, declarou há poucos dias o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell. Se é dinheiro para a sociedade bielorrussa, é uma absoluta ninharia. Se é dinheiro para a consorte do blogueiro, é um montão de dinheiro. Como sabemos que não irá para a “sociedade bielorrussa”, mas sim para o directório opositor, são 50 milhões para desestabilizar a Bielorrússia. No que diz respeito aos fundos externos, em Espanha é crime os partidos políticos receberem dinheiro estrangeiro. A União Europeia também o proíbe. Mas a UE pode alegremente distribuí-lo …
4.- Tijanóvskaya viajou à Letônia para se encontrar na segunda-feira passada com o Subsecretário de Estado dos Estados Unidos, Stephen Biegun. Para negociar o apoio da CIA?
5.- Aproveitando a visita, o Presidente da Letônia juntou-se às manifestações contra Lukashenko. O facto faz recordar as manifestações contra Juan Domingo Perón, em 1954, na Argentina, encabeçadas pelo embaixador dos Estados Unidos. Os países bálticos e a Polónia querem ser para a Bielorrússia o que a Colômbia de Duque é para a Venezuela e Maduro.
6.- Tijanóvskaya diz que está disposta a viajar para a Bielorrússia para dialogar com Lukashenko e ‘resolver’ a crise interna … com a entrega do poder a Tijanóvskaya. O guião que deram ao palhaço do Guaidó, na Venezuela, e que em palhaço ficou.
7.- Entre viagem e viagem, a esposa do blogueiro não parou de dar entrevistas a meios de comunicação europeus e norte-americanos, em inglês! Não é necessário que os bielorrussos a entendam, o que importa é que seja divulgado pelos meios de comunicação ocidentais.
8.- Como música de acompanhamento, a Prémio Nobel de Literatura, e fervorosa partidária da UE, Svetlana Alexievich, denuncia que pode ser detida “a qualquer momento” e clama: “precisamos da ajuda do mundo civilizado”. Uau, pelo amor de Deus, a Prémio Nobel trouxe-nos de volta ao século XIX, quando as potências imperialistas europeias dividiam o mundo em civilizados, bárbaros e selvagens. Bárbaros ou semicivilizados eram os latino-americanos. Selvagens os habitantes da África, Ásia e Oceânia. Portanto, a Sra. Nobel está pedindo às potências imperialistas - as únicas civilizadas - que enviem os seus soldadinhos à Bielorrússia. Soa-lhes familiar? De resto, deixo-vos esta afirmação de Thomas Mann, de 1907: “A Rússia está muito mais próxima da barbárie do que a nossa metade ocidental da Europa. “Em 1907, a Rússia compreendia russos, bielorrussos e ucranianos (podem encontrar a citação no artigo “A solução da questão judaica”).
Se houver alguma novidade neste guião, por favor, indique-ma.
Fonte: https://blogs.publico.es/dominiopublico/34160/bielorrusia-el-gastado-guion-se-repite/ |