Porto Alegre, 12 de Janeiro de 1939.
Ilmo. Sr. General Francisco Ramos de Andrade Neves
Rio de Janeiro
Acabo de saber que fazeis parte, como Presidente do Supremo Tribunal Militar que vai julgar, em breve, o recurso interposto pelo advogado de meu neto Luiz Carlos Prestes da sentença que o condenou a 16 anos e 8 meses de prisão.
O alto conceito em que são tidas as vossas qualidades de caráter e inteligência, e a circunstância de terdes conhecido pessoalmente o pai de Luiz Carlos, o Capitão de Engenheiros Antônio Pereira Prestes, animam-me a vos dirigir estas linhas, que são um apelo aos vossos sentimentos de humanidade. Convencida como estou que a severidade da pena imposta pelo Tribunal de Segurança Nacional só encontra justificativa na paixão dos juízes que a ditaram, suplico-vos apenas um pouco de justiça serena e imparcial no julgamento que ides proferir.
Peço licença para vos recordar que os atuais governantes do País recorreram à violência para ocuparem as posições em que se encontram. Este fato não pode deixar de ser pesado quando se faz o julgamento dos que são acusados de ação idêntica.
Certa de que não sereis indiferente à sorte de meu neto Luiz Carlos Prestes, intimamente ligada a dos entes que lhe são caros, confio, Sr. General, que este apelo encontre eco nos vossos sentimentos de justiça e de humanidade.
Respeitosamente
Ermelinda de A.Felizardo
*Arquivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul.
CARTA DE ERMELINDA DE A. FELIZARDO AO MINISTRO DA JUSTIÇA J. C. DE MACEDO SOARES*
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